RELATO – FILME “O CLUDE DO IMPERADOR”
O filme Clube do Imperador traz à reflexão quem o assiste. Diferentes cenas me fizeram refletir sobre a minha prática em sala de aula. Quantas vezes nos deparamos com situações onde temos que tomar decisões que podem mudar a vida de um aluno. Em que momentos acertei? E em quais errei? Será que minhas decisões foram as mais acertadas? O filme trouxe-me uma angústia, mas também trouxe a certeza de que não sou infalível, e que sempre diante de um dilema ou conflito procuro fazer o melhor por meu aluno.
Acredito que um dos momentos mais críticos para o professor aconteceu quando o mesmo avaliava os testes de seus alunos. Estas produções avaliavam o grau de conhecimento de cada um sobre a vida de Júlio César, para um tradicional concurso da escola. Mínimos erros ou acertos eram considerados, diante da rigorosidade do concurso. Ao final da testagem, apenas um ponto separa dois alunos para a classificação. Um deles, um excelente aluno, aplicado, responsável e filho de um dos ganhadores do concurso em anos anteriores. O outro aluno, um menino arrogante, indisciplinado, com sérios desvios de caráter e filho de um político sem escrúpulos. Este aluno aparentemente dá indícios de querer modificar seu comportamento, dedicando-se aos estudos para o referido concurso.
Depois de refletir, questionar-se, ponderar sobre a questão, o professor decide dar uma oportunidade a este jovem, colocando-o na frente do real classificado. Com esta atitude, o professor pensa estar motivando-o, valorizando-o, dando-lhe uma oportunidade para a transformação de seu caráter.
Princípios morais como a honestidade, a verdade, a justiça, estão contidos nesta decisão do professor. Princípios estes que sempre fizeram parte de seu caráter e que sempre passou para seus alunos. Com sua decisão viu seus valores serem abalados, porém considerou que valeria a pena para a recuperação de seu aluno. Analisando esta situação, vê-se que ela se contrapõe, pois com a sua desonestidade, o professor queria que seu aluno se tornasse um homem de caráter e seguisse o caminho da retidão. Neste caso também a verdade foi burlada, pois o resultado dos testes foi forjado.
A justiça revelou-se no momento em que o professor percebeu que o aluno tentava vencer o concurso de forma ilícita. Não admitindo este ato, o professor encontra uma forma de reverter a situação, fazendo-lhe uma pergunta que ele, o professor, tinha certeza que seu aluno não saberia responder. O professor toma esta decisão, mesmo após o diretor da escola dizer-lhe que continuasse, pois o mesmo era filho de um senador. Esta atitude foi a forma que o professor encontrou para que a injustiça não se concretizasse e também serviu para se redimir do que havia feito anteriormente, mesmo que seu ato tenha sido por uma boa causa.
O professor vive momentos de frustrações em sua vida, pelo fato de não ter conseguido recuperar seu aluno e pela sensação de ter sido desleal com o outro aluno que na realidade merecia estar na final do concurso. Os anos passaram, mas aquele dia permaneceu em sua memória.
Anos depois, o professor se depara com a mesma situação e com as mesmas pessoas. A esperança de que aquele menino estudante tivesse mudado e se transformado numa boa pessoa cai por terra, pois ao encontrá-lo novamente constata que ele se tornara um homem totalmente sem escrúpulos, tal qual seu pai. Na reconstituição do concurso, usa artimanhas para ganhá-lo, da mesma forma como fizera na escola.
No mesmo encontro, o professor se surpreende com uma homenagem que seus ex-alunos lhe proporcionam em reconhecimento pela sua dedicação, profissionalismo e valores morais que conseguiu passar-lhes e que se perpetuaram ao longo de suas vidas. Com esta atitude dos alunos, o professor percebe que nem sempre conseguimos incutir valores e bons exemplos na totalidade daqueles com quem trabalhamos e que não podemos nos sentir fracassados ou frustrados por não consegui-lo. Muito pelo contrário, como mostrou o filme, a grande maioria seguiu seus ensinamentos e é desta forma que devemos avaliar nosso trabalho, através da maioria.
Apesar da intenção do professor ao agir daquela maneira, tenha sido para fazer o bem, não é fácil dizer se ele foi correto ou não.
Analisando friamente a sua atitude, apesar da sua boa intenção, ele não foi correto. Se ele tivesse usado de sua honestidade com aqueles dois alunos, suas histórias poderiam ter sido diferentes. Se tivesse contado a verdade ao aluno, dizendo-lhe que havia se saído muito bem e que estava no caminho certo, mas que ainda não estava preparado para a final do concurso, talvez o resultado fosse outro e lhe trouxesse mais benefícios. Se assim o tivesse feito, talvez o garoto aprendesse que longas batalhas são necessárias para se chegar à vitória, que precisamos agir com persistência e bons princípios, que a verdade prevalece sempre, mesmo que seja dolorida.
E se nenhuma dessas suposições tivesse acontecido e ele desistisse mesmo assim de ser uma pessoa de bom caráter, assim mesmo teria valido a pena, pois o professor teria agido de acordo com seus valores morais e sua consciência.
Vivemos num mundo onde as pessoas não são cem por cento corretas. Nem mesmo os melhores exemplos conseguem mudar o modo de agir de alguns. Infelizmente pessoas com desvios de caráter estão presentes em nossa sociedade. O que podemos fazer é tentar fazer o melhor possível para dar bons exemplos aos nossos alunos, incutindo-lhes valores morais que façam com que se tornem bons cidadãos.